- 09/01/2022
- De Fernando Branco
- ARTES MARCIAIS
Ora aqui está um excelente artigo de um colega de profissão..👇
“Recentemente ouvi alguns comentários depreciativos sobre instrutores que abraçaram o ensino das artes marciais de forma profissional, chamam-lhes “mercenários” porque vivem do dinheiro que cobram aos alunos.
Curiosamente os críticos têm outro trabalho mas ainda assim também cobram dinheiro pelas suas aulas…
Mas voltemos à questão: o que é melhor, profissionalização ou amadorismo? É melhor ter alguém especializado no ensino de uma arte marcial, ou alguém que apenas o faz em part-time? Quem destes dois instrutores estaria mais interessado em fazer crescer as suas competências, o amador ou o profissional?
A especialização surge de um envolvimento total na atividade, e não me digam que alguém que esteve a trabalhar durante 8 horas, chega ao final do dia e vai dar aulas com o mesmo foco e vigor que aquele que faz disso a sua profissão. O planeamento, a preparação e a entrega do serviço é completamente diferente, a não ser que tenham um desses empregos que não precisam se esforçar muito para que o cheque chegue no fim do mês.
Não tenho nada contra aqueles que o fazem por hobby, muitos fazem-no por paixão, e sejamos justos, é um complemento ao seu vencimento e é totalmente legítimo! Chegar a cinto negro numa arte marcial é como fazer dois cursos da universidade seguidos, é difícil e deve ser recompensado. O problema é quando querem rotular de mercenários aqueles que vão mais além e se arriscam para se profissionalizar, acusando-os de o fazerem por dinheiro.
Imaginem um mundo em que existiam médicos cirurgiões que exerciam a sua profissão de forma amadora e outros de forma profissional, se vocês ou alguém que vos é querido necessitasse de uma cirurgia, quem é que escolheriam para vos operar, o amador ou o profissional?
Às pessoas que criticam e tentam denegrir os profissionais, mas são eles próprios instrutores de artes marciais e têm um emprego, acho que por uma questão de coerência com o seu discurso, não deveriam cobrar aos seus alunos. Caso o estejam a fazer é um contra-senso pois se já têm o seu salário e subsistência assegurados, e ainda assim cobram pelas suas aulas, podemos dizer que se trata de ganância, isto claro se tivermos em consideração o seu próprio argumento absurdo.
O tempo em que o mestre vivia numa gruta e os seus alunos iam ter consigo para aprender, acabou, aliás, esta visão idealista só existia no cinema, porque na vida real os mestres sempre tiveram contrapartidas dos alunos, se não fossem monetárias seria em géneros ou trabalho.
Já estive dos dois lados e hoje sou profissional, com muito sacrifício pessoal e familiar, e desde que me pude dedicar exclusivamente à atividade vejo o impacto que isso teve no meu desempenho e na qualidade do serviço que presto. Isto é na verdade um “não assunto”, uma vez que não faz sentido nenhum comparar uma coisa com a outra, mas enfim, por vezes é mesmo necessário fazê-lo.”
Sensei Spirit