O entendimento das formas (Poomsae).

Há uns anos escrevi este artigo para uma revista estrangeira de artes marciais. Este é o meu entendimento sobre como praticar e conectar o nosso Eu com as Poomsae…

Ao treinar formas uma das maiores dificuldades é a não expressão da ligação existente entre os nossos gestos e a comunicação das nossas emoções. Cada treino marcial comporta cansaço, suor, perseverança e dor. Um DO para descobrir a cada dia, os segredos já desvendados da arte que treinámos. Mas este DO marcial está intrinsecamente aliado ao EU-DO.

O que ganhámos cada vez que treinámos, são os novos indícios sobre nós mesmos, sobre a nossa forma de pensar e de nos movermos. Nos treinos de base onde os Tchaguis são predominantes, existe um acréscimo de adrenalina, o intercâmbio é excitante, mas o grau de concentração é diminuto, logo o risco é maior na relação Do adquirido e prática treinada.

No estudo das Poomsae nota-se o oposto. Ao assumirmos a posição de Kibon Tchumbi Sogui o barulho pára e entramos quase em estado meditativo. Cada vez que nos dedicamos ao estudo das Poomsae é inevitável criar esse ambiente meditativo. A concentração no ato é tanta que acaba por se tornar um ato em si. Este é um dos principais recursos que se adquire ao estudar e praticar Poomsae.

Mas existem outros… Como já referi a concentração é a primeira qualidade que podemos adquirir. Esta concentração começa por ser física ao tentarmos colocar os nossos movimentos em torno do nosso eixo. Isto talvez se explique melhor tomando, por exemplo a terra (movimento) e o sol (eixo). A terra ao girar em torno do sol fica aderente ao seu eixo central devido á sua própria rotação, assim como os movimentos de expressão do nosso corpo ficam aderentes ao centro do nosso corpo.

Se os nossos deslocamentos se realizarem atraídos pela energia que se desenvolve no Danjun então percebemos como os braços e pernas se movem através de um ponto central, que está localizado no centro das nossas costas.

A descoberta deste mundo interior de onde saem os nossos movimentos de expressão para o exterior, torna-nos mais conscientes das nossas bases, tanto físicas como psicológicas. Ao sentirmo-nos centrados e aderentes ao nosso corpo em cada movimento proporciona uma maior capacidade de concentração e renovação da confiança em nós mesmos. Nas formas o equilíbrio não é só avaliado pela habilidade de ficar equilibrado numa só perna, mas também pela arte de estabelecer uma relação interior entre todos os pontos do corpo, dos quais conseguimos ser conscientes.

Ao executar uma Poomsae, tento manter por vários segundos as varias posições, concentrando-me nos membros que se movem para executar as técnicas, coloco a atenção nos membros estendidos como se flutuassem sobre a água, colocando-os em relação com o movimento de todo o corpo. A postura é a forma como as várias partes do nosso corpo se combinam entre si, a forma sincronizada entre músculos agonistas e antagonistas se alternam e como enfrentamos o peso da força da gravidade. Mas tão importante como esta anterior simbiose é a forma como o nosso físico expressa o nosso estado emotivo.

Não devemos ter medo de nos autoavaliarmos e corrigir a nossa postura. Endireitar os ombros, relaxar a cervical, reequilibrar a posição da pélvis, são alguns exemplos das correções que podemos fazer. Com isto provavelmente vão descobrir que praticar postura é certamente uma oportunidade de renovação e melhoramento do nosso estado físico e também emotivo.

Ao treinarmos Poomsae uma das maiores dificuldades é a não expressão da ligação existente entre os nossos gestos e a comunicação das nossas emoções. Tomemos por exemplo. Se temos de executar um Ap Tchagui levantámos a perna e esticamos para a frente. Mas isso por si só não é um Ap Tchagui. Um Ap Tchagui tem no mínimo de derrubar uma porta, por isso, no gesto de Ap Tchagui falta toda a nossa concentração muscular e potência de expressão emotiva.

Para mim o melhor método ao estudar esta parte da Poomsae é analisar o sentido emotivo de cada gesto. A mesma Poomsae partindo de uma simples sequência de movimentos torna-se numa realista manifestação de nós próprios em movimento. Com isto descobrimos que nos sentimos mais capazes psicológica e fisicamente ao fazer alguns gestos, e, ao mesmo tempo bloqueados com outros. E são estes que temos que trabalhar mais arduamente. Temos que assumir a responsabilidade dos nossos gestos, e depois ao dar-lhes vida com as nossas emoções descobriremos como ser protagonistas das nossas próprias expressões.

Todos os passos anteriores ajudam a executar a Poomsae não só como uma sequência de técnicas contra um adversário imaginário, mas também como uma nota de uma peça musical, fazendo-a passar através do seu instrumento — o nosso corpo — e depois trazendo-as de volta sob a forma de composição musical.

Logo, por si só, cada Poomsae torna-se individual, com som próprio, podendo ser interpretada utilizando um ritmo especifico, um tempo, uma combinação entre os nossos gestos que dão harmonia a toda a sonata. Esta é a sensação especial de nos tornarmos maestros da nossa orquestra, constituída pelas várias partes do nosso corpo que se combinam numa melodia que expressa o nosso estado anímico, o nosso pensamento, todo o nosso DO.

Se gostou do artigo siga-nos nas nossas redes sociais e fique dentro das nossas novidades. Caso queira inscrever o seu filho nas nossas artes marciais. Contacte-nos

EGO DO