- 04/01/2022
- De Fernando Branco
- SEON
A LEALDADE
Primeiro aspecto – acatar o que vier do Mestre. Sempre que você tiver dúvidas, ou se alguém criticar o seu comportamento, tachando-o como fanatismo, pare e pense: como seria a atitude de um discípulo oriental perante as recomendações, proibições ou repreensões do seu Mestre? Um discípulo questionaria ou contestaria seu Mestre? Claro que não, e por uma razão extremamente lógica. É que a liberdade de escolha é do discípulo. É ele que escolhe o Mestre. A este é reservado o direito de recusar ou de excluir o discípulo cujo comportamento não for considerado compatível com o ensinamento do Mestre. Consequentemente, um discípulo só deve eleger como Mestre alguém com quem já manifestar empatia. A partir daí, o discípulo tem apenas o privilégio de acatar o que vier do Mestre.
Segundo aspecto – fidelidade a um só Mestre. Mas não é só isso. Ser leal não é apenas acatar o que partir do Mestre. É expressar em seus atos, palavras e pensamentos uma atitude de satisfação plena, daquele tipo experimentado pelos apaixonados, quando não querem saber de mais ninguém. Na relação Mestre/discípulo, essa atitude de amor e plenitude manifesta-se no sentido de não querer aprender de mais ninguém, coisa alguma, uma vez que o discípulo encontra-se perfeitamente satisfeito com a quantidade e qualidade do ensinamento do seu Mestre. Não precisa e não aceita outros Mestres. Não nutre a menor curiosidade sobre o que outros poderiam ter a ensinar, como a esposa ou o marido fiel não alimentam a mínima curiosidade sobre as carícias com que possam-lhe acenar os melhores conquistadores. É considerado como falta grave de disciplina, falta de ética e falta de educação visitar outros Mestres que pertençam a estirpes diferentes ou mesmo a escolas menos leais da sua própria estirpe. Visitar outro Mestre sem a indicação expressa do seu próprio, significa que você não está cem por cento com ele; que não está satisfeito com os ensinamentos e quer compará-los com os de outras escolas. Em alguns Kwans na coreia, um discípulo que visite outro Mestre sem autorização do seu, é sumariamente excluído e instado a seguir o outro que despertou o seu interesse!
Terceiro aspecto – defender seu Mestre. Cada instrutor ou professor tem o dever moral de esclarecer todos os seus praticantes e alunos a respeito destes conceitos sumamente importantes. Também deve prepará-los para defender corajosamente seu tipo de tkd ou hkd, sua linhagem e o seu Mestre contra os tão frequentes sabichões que, motivados pela inveja, os atacarem. Não se admite um discípulo que fique ouvindo ataques e injúrias ao seu Mestre sem defendê-lo com fibra e eloquência. Tolerância e silêncio, neste caso, seriam indícios apenas de covardia e deslealdade. Quando alguém começar a declarar qualquer coisa negativa, a ética manda que o discípulo leal não fique ouvindo com curiosidade mórbida o que o detrator tiver a intenção maligna de divulgar. Quem escuta é um difamador passivo, pois permite que o agressor passe adiante sua mensagem maldizente. Se tem coragem, dignidade e amor pelo Mestre, deve interrompê-lo e afirmar: “Não diga mais nada. Eu conheço o trabalho da pessoa em questão e sou testemunha de que o que você está dizendo não é verdade. Saiba que é muito feio caluniar pessoas honestas que estão fazendo um trabalho sério.” E dê-lhe as costas.”
A lealdade é uma das principais virtudes exigidas a um discípulo e, por incrível que pareça, é a mais mal interpretada no Ocidente. Entretanto, sem ela não se consegue progredir no DO
Se lhe perguntassem: “Você é leal”, sua resposta seria sim, sem titubear, definitivamente sim! Quase todos os ocidentais se consideram leais ao seu Mestre, mas na verdade, de acordo com os princípios orientais e milenares, o seu conceito de lealdade deixa muito a desejar….